COMO TRAUMATIZAR UM JOVEM EM 400 METROS

Estava a dirigir-me para a paragem do autocarro.
Não sabia dentro de quanto tempo ele apareceria, portanto, já ia com o passo acelerado, com receio de o perder. Ultrapasso uma velhota, coitada, coxa, que se deslocava com a ajuda de uma bengala, com uma malinha na mesma mão desse suporte e dois sacos de compras na outra. Pensava eu quando a vi "que é complicado atingir uma determinada idade e necessitar de suportes para a vida que antes não necessitávamos"...Nisto vem o esperado autocarro. Mas eu estava no sítio errado ainda. A paragem estava a cerca de 400 metros. Mala ajeitada nas costas, reacção imediata:correr! Acelero o passo, para corrida de sprint. Oiço atrás de mim alguém gritar "AI MEU DEUS, VOU PERDER O AUTOCARRO". Não liguei. Mas mais perto oiço repetir "O AUTOCARRO". Olho para trás para ver quem vinha ali tão perto. E lá vem a vóvó, a ultrapassar-me, a correr que nem uma louca. Eu fico estupefacto, perdendo por momentos a noção do porquê de estar a correr e abrando o passo, só para ter o prazer-desgosto de a ver passar por mim. Ao longe vejo o autocarro a abrir as portas e aí retomo o meu ritmo de corrida acelerado, mas lesma comparado com a velhota.
 Entro no veículo, que estava prestes prestes prestes a arrancar, ao mesmo tempo que revejo na minha mente a situação que acabara de ocorrer. A velhota já estava sentadinha no seu lugar, próprio para idosos, grávidas ou deficientes físicos, descansadinha da vida. Ela olha para mim, serena e sorri com um ar malandro...enquanto eu tentava recuperar o fôlego.  Ok...Eu é que me senti idoso e deficiente. E ainda tive de ir em pé porque não havia lugar. Em memória a esse momento, traumatizanto-inesquecível, escrevo este texto.


BY:JCS
09/08/2012
17:43