*DIÁLOGOS DE UMA RELAÇÃO FALHADA [Ⴜ , ⁂ ]

-Mas eu amo-te
-Não quero saber, não gosto!

-...mas qual é o mal de falar com outras?
-Sou ciumenta, queres o quê?
-Mas porque é que tens ciúmes?
-Tenho ciúmes porque gosto de ti!
-Sim, mas eu confio em ti. Amar inclui isso. Não me amas?
-Amo pois. Acabei de te dizer isso.
-Não. Disseste que gostavas de mim. Gostar não é suficiente.
-Qual é a necessidade que tens de falar com outras?
-Tu não falas com outros também?
-Sim, mas é diferente.
-Diferente porquê?
-Porque eu não os trato como tu as tratas!
-E como é que tu sabes que eu as trato?
-Pelas respostas que elas te dão!
-Não. Tu analisas como te apetece a resposta, e fazes a história por trás dela.
-Isso não é verdade.
-É pois!
-Não, não é. Tu nunca apanhaste respostas dessas deles para mim!
-Pois não. Mas apanhei-te duas vezes com dois tipos diferentes a quererem beijar-te.
-Mas não aconteceu nada entre nós!
-Aconteceu a situação.
-E então?
-E então, eu tinha-te avisado que tanto um como o outro, iam atirar-se a ti. E o que é que tu fizeste?
-Eu não fiz nada.
-Exactamente. Não fizeste nada. Permitiste que chegassem aquele ponto.
-Mas agora eu não lhes falo.
-Porque não?
-Não curti da acção deles.
-E quando eu te avisei que isso ia acontecer, tavas a curtir?
-A curtir o quê?
-Os meus ciúmes com fundamento...
-Ciúmes com fundamento porquê? Não aconteceu nada!
-Comigo e com as outras também não aconteceu nada! Nem sequer estive com elas. Não dou espaço para se aproximarem o suficiente de mim para me beijarem. Não dou confiança para me desejarem.
-Eu também não!
-Então porque é que contigo te acontece isso, e comigo não?
-...
-Pois é! Durante quanto tempo mais eu te vou avisar e tu não me vais dar ouvidos?
-Ouve, se eu quisesse e deixasse, tinha acontecido alguma coisa.
-Não. Tu até podias não querer...mas deixaste chegar mesmo até à linha limite.
-Queres comparar as dezenas de gajas que tens atrás de ti, para o um ou dois com quem saí porque são meus amigos de confiança?
-Amigos, isso? Que querem dar uma contigo e mandar-te fora como se fosses uma pastilha elástica usada? Amigos isso, que sabem que tens uma relação comigo, e dizem "ele nunca vai saber?" Amigos? Onde?
-As tuas amigas é que são boas, e os meus amigos não prestam não é?
-Olha...já te disse mais de mil vezes...as pessoas que eu considero minhas amigas, deves-lhes respeito. Não admito que as trates como putas ou uma tipa qualquer. Ainda mais sem razão, fundamento ou provas!
-Nunca te proibi de falares com ninguém. Proibi?
-Não. Também era melhor.
-E porque não? Se tás comigo, porque é que precisas das outras?
-Ouve, antes de te conhecer, já muitas delas faziam parte da minha vida. Já eu tinha passado por muito, e elas estiveram lá para me ajudar.
-Porra pá, mas porquê só gajas?
-Tu é que só vês gajas. E no entanto, acho normal, um gajo ter mais gajas que gajos.
-Ai achas normal?
-Sim, não misturo amizade com amor. Sei perfeitamente qual é o meu lugar.
-Mas elas, não sabem o delas.
-Claro que sabem. Tu é que achas que não. Olha para ti primeiro.
-Olho para mim? Que queres dizer com isso?
-Vê a tua lista total de amigos, e diz-me se não tens mais amigos que amigas.
-Não...
-Não o caralho!
-Não precisas de falar assim.
-Não precisas de desmentir-me um facto.
-E qual é o problema de ter mais gajos que gajas? Eu não falo com eles!
-Não? Então para que é que os tens na tua lista de amigos?
-Ás vezes falo. Ou quando preciso de alguma coisa...
-Porquê? Eu não te dou tudo o que precisas?
-...
-É sempre a mesma merda. Tu um dia vais perder-me por causa dos ciúmes.
-Isso é uma ameaça?
-Não. É a realidade num futuro não muito distante.
-Não digas isso. Tu amas-me.
-Sim, mas isso não quer dizer que não me ame mais a mim próprio.
-Não são bem ciúmes isto...
-Credo. Então são o quê?
-Tipo...eu quero estar contigo, e não consigo. Enquanto elas conseguem.
-Elas não conseguem. Elas não estão comigo. Eu não estou com ninguém!
-E como é que eu sei?
-Há uma coisa que inventaram há milhares de anos atrás que se chama: confiança, conheces?
-...
-É que tu esqueceste que vais sair à noite com o teu grupo de amigos lá não sei para onde, vais jantar a casa dos teus colegas, e eu não te digo nada.
-Quem tem ciúmes, é porque ama. Se tu não tens ciúmes, é porque não me amas então como eu a ti.
-Não. Toda a gente ama de maneira diferente. Não sou obrigado a ser como tu.
-E não és como eu.
-Pois não. Falo quando tenho de falar, e penso nos porquês e como te devo dizer as coisas.
-E eu não queres ver?
-Claro que não. Tu, à mínima coisa que envolva outra rapariga, é o fim do mundo! Alguma vez te disse alguma coisa de ires sair à noite ou de ires jantar com eles?
-Não...
-E eu sei que há um que te quer saltar para cima!
-Como sabes?
-Sabendo. É mentira o que estou a dizer?
-...não.
-E não me vês a fazer filmes como os que fazes pois não?
-Porque nunca te dei motivos para desconfiares de mim ou teres ciúmes.
-Nem eu. Mas tu tomaste a liberdade de os arranjar.
-Sabes que por mais que eles queiram, nunca vão ter nada de mim.
-Elas não querem nada parecido com esses teus amigos. Porque raio achas que sim?
-Não consigo controlar os meus ciúmes, queres o quê?
-Que os controles!
-Olha, merda, falar é fácil!
-Sim, mas se continuares só a falar em vez de agires, vai continuar a ser fácil. E nada está a ser feito. É só blá-blá-blá.
-Quando me conheceste eu já era assim. Porque é que agora é que tás a implicar comigo?
-Quando eu te conheci, nunca me mostraste que tinhas ciúmes. Eu não sabia se eras ciumenta.
-Mas sou!
-Já me prometeste que ias tentar mudar isso.
-Sim, e eu já tentei...
-A sério? Quando? É que não se notou nada.
-Já tentei e não consigo...
-E queres continuar comigo como? Eu é que já não consigo aturar esses espectáculos todos que fazes!
-Queres acabar é?
-Se eu quisesse acabar, achas que estava este tempo todo a falar contigo?
-Porque não? Falas tanto com elas, não podes falar comigo também? Ou só as tuas amiguinhas é que têm direito?
-E continuas...
-Porque é que não arranjas gajos para conversar?
-Mas quem te disse que eu não converso com gajos?
-E então?
-E então o quê?
-Porque não arranjas mais?
-Mas eu não ando à caça, muito menos de pessoas especificas...quem aparecer que me queira bem, é bem vindo à minha vida.
-Elas bem te querem...
-Mesmo que isso fosse verdade, eu não tenho direito a decidir? Elas querem e eu sou delas? Não me digas que já não se pode decidir com quem queremos ficar.
-Às vezes não dá...
-Sim, mas no meu caso, eu escolho-te a ti. Portanto, não escolhas os ciúmes, em vez de me escolheres.
-Já estou farta desta conversa. E já me estou a passar. Tu não me compreendes!
-Eu não te compreendo? Acho que às vezes te compreendo melhor que tu mesma!
-Então porque é que me fazes ter ciúmes?
-Mulher, eu não faço nada! Eu vivo. Sociabilizo. E tu passaste, se a outra pessoa for do sexo oposto!
-E tu passaste comigo. Porque não controlas isso também?
-Porque não consigo eliminar a causa disso.
-Deixa-me adivinhar, a culpada sou eu.
-Os teus ciúmes. Se tu não tiveres ciúmes, eu não me passo contigo.
-Ok. A partir de hoje, não tenho mais ciúmes. Não quero saber mais disso para nada.
-Podes ter, mas tem com sentido.
-Não não. Não tenho mais ciúmes nenhuns. Acabou a conversa.
-Não precisas de ser radical...
-Acabou a conversa, não ouviste?
-O problema é que já me disseste exactamente a mesma coisa duas ou três vezes antes...
-Confias em mim, ou não?
-Claro que confio. Tal como confiei das outras vezes.
-Ainda não acabou a conversa?
-Porque é que tás a reagir assim agora?
-Se eu te fizesse o mesmo, havias de ver como era.
-Mas o mesmo o quê? Foda-se! Estivemos este tempo todo a falar de quê afinal?
-Que eu sou maluca e tenho ciúmes sem razão.
-Vamos fazer assim então, a partir de hoje, eu, vou dar-te razões sérias para teres ciúmes.
-Ai de ti que faças isso!
-Então porquê? Quero ter a fama e o proveito, não é só a fama...
-Então acabamos já aqui.
-Porquê? Aí já te podes passar comigo. E eu como sei que vais ter razão, não te vou responder, nem me defender, nem me passar contigo.
-Não estou interessada em semelhante proposta. Vai lá ter com elas...
-Podes parar com isso?
-Fogo...
-Beija-me.
-...
-Beija-me...vá lá.
Depois de um beijo apaixonado, ficam no ar as dúvidas de um e de outro. Cerca de duas semanas mais tarde quando o telemóvel dele toca:
-Recebeste uma mensagem amor...
-Sim, devem ser eles a avisar que tenho de o carregar.
-Não a vais ver?
-Qual é a pressa?
-Nenhuma. Só para ver se era isso que disseste.
Ele levanta-se do sofá, pega destemidamente no telemóvel e abre a mensagem. É de uma amiga.
-Pronto. Essa gaja não tem mais nada para fazer?
-Amor, o que é que ela fez de mal?
-Está a mandar-te mensagens para quê?
-Não leste o mesmo que eu?
-Não interessa. Porque é que ela manda para ti?
-Mas qual é que é o problema de ela mandar para mim?
-Já lhe estiveste a dar conversa de certeza.
-Outra vez isto?
-SIM. OUTRA VEZ ISTO PORRA!
-É preciso tares a gritar? Tás a passar-te ou quê?
-Quem é essa?
-Uma amiga.
-É assim, não quero que fales com mais nenhuma mulher. Tou farta.
-Não me estás a dizer isso.
-Queres que repita?
-Então e onde está aquilo que me disseste há uma semana ou duas, que não ias ter mais ciúmes?
-Achas que dá para não ter mais ciúmes?
Nisto o telemóvel dela recebe uma mensagem também.
-É um amigo especial teu?
-Pára com isso. Tu não tens ciúmes. Como é?
-Estás a pedir-me para escolher entre tu e as minhas amigas?
-Não. Estou a exigir! Não falas com mais mulher nenhuma, ouviste?
-Vais arrepender-te imenso disto. Acabaste de destruir a nossa relação.
-Estou a fazer isto para nosso bem. Tira as gajas da tua vida, e vais ver que tudo vai ser perfeito.
-...
Seis meses mais tarde...
-Estás a falar com quem aí na net?
-Com um amigo...
-Posso ver?
-Estás a desconfiar de mim? Podes ver, podes.
-Mmmm...ok. Já há imenso tempo que não discutimos devido aos meus ciúmes. Tal como disseste, é só eliminar a causa.
-Sinto-me meio vazio sem as pessoas que sempre estiveram a meu lado. Sinto que as abandonei.
-Fizeste a coisa certa. Como vês, estamos óptimos. Não discutimos, não nos passamos. Maravilha.
-Olha, logo à noite vou sair...
-Ai é?
-Sim.
-Com quem?
-Com este tipo que estou a falar.
-Ok...
Dias depois...
-Amor, mensagem!
-Já vou...
-Quem é?
-É aquele meu amigo com quem tenho falado.
-Das-te bué bem com ele.
-Por acaso, entendo-me muito bem com ele.
-Ouve lá...por acaso não é nenhuma gaja com foto de gajo pois não?
-Porra! Até assim tens ciúmes?
-Nunca é demais prevenir. Como é que posso saber?
-Esquece! Nem digo mais nada.
Ele sai porta fora. Volta à noite.
-Amor...
-Não quero ouvir nada. Deixa-me estar sozinho. Tenho muito em que pensar e não quero que ninguém me incomode!
-Amor, eu não...
-Posso estar em paz se faz favor?
Ela abandona a sala. E não se falam durante três dias. Farta da espera:
-Amor, desculpa pelo que te disse no outro dia à tarde.
-Não...Estou farto.
-Vais ficar assim?
Nisto toca a campainha. Ele sobe as escadas e reaparece pouco depois com uma mala enorme de viagem.
-Mas...Onde vais?
Abre a porta e do lado de fora, encontra-se um jovem muito elegante, bem parecido e extremamente simpático que lhe diz:
-Queres que leve?
-Mas...mas...que raio se passa aqui? Onde é que tu vais?
-Querida. Este é o amigo com quem tenho falado e saído ultimamente.
-Sim, e vais para onde?
-Fiz tudo o que me pediste: deixei de falar com raparigas, fiquei contigo e não me passei mais. Perdi amigas, pessoas importantes. Disse da boca para fora que te ias arrepender do que me fizeste.
-Não estou a perceber...
-Não sou feliz contigo. Não sou feliz sem elas. Vou ser feliz com ele. Adeus.
O sangue dela congela. As palavras não saem. Apenas as lágrimas correm pela sua face.
-...
Eles beijam-se lá fora, após arrumarem a mala no carro. Ela assiste a tudo e não acredita. Está em estado de choque...quer chama-lo, mas o impacto de ter perdido o homem que mais a amou em toda a sua vida, é forte demais. Caí de joelhos no chão ao mesmo tempo que as lágrimas se multiplicam...o carro arranca. A sua voz, não volta...ela tenta de novo chama-lo...
-...
-...
-...
-Per...per...
Por fim...
-Per...doa-me...


BY:JCS
02/04/2012
02:21

4 comentários:

Comentar este texto: