CRIATURA DO MAL [☠ - ⁂]

Um dia de muito trabalho. E ainda vinha as horas extras. Sim, estava cansado. Além de tudo isto, haviam coisas na minha vida que não andavam a correr muito bem, que davam muito que pensar. Ou seja, ligava o piloto automático para o corpo trabalhar, mas a minha mente vagueava constantemente por outros lugares.
 Estes armazéns eram frios, mas hoje, nem tinha feito muito, logo, eu não estava a perceber porque é que a temperatura estava tão baixa. Enfim...
 Um dos meus pensamentos era um amigo em dificuldades...outro, o  local de trabalho que não apresentava as condições que os trabalhadores mereciam, as injustiças...a noticia de ontem à noite na televisão...os meus familiares...o PC avariado...telemóvel sem rede...o que iria fazer para almoçar amanhã...etc, etc, etc...Para onde quer que os meus pensamentos se dirigissem, a minha vida tinha algo a dizer sobre o assunto. Os meus colegas perguntam-me se está tudo bem, pois notam-me distante. Sim, estou. Bem, distante, e por vezes bem distante. Chega a hora de sair. Perto da meia noite. E faz mais frio que nunca. O conjunto dos três armazéns, unidos, faziam o maior frigorífico que já conheci. Tão grande que me permitia andar dentro dele.
 Temos o armazém um, dois e três, que vistos de frente, será então o um, o do lado esquerdo, o dois o do meio e o três o do lado direito. Estávamos a vir à esquerda buscar material, no do meio a trabalha-lo e por fim guardava-mo-lo no da direita, que também funcionava para a saída de tanto de bens como pessoas.
 Apago a luz do primeiro armazém, e volto para o segundo. Os colegas perguntam se ainda faltava muita coisa. Eu disse que não, mas iria ligar o quadro da electricidade para lhes mostrar em concreto o que faltava. Eles param, ambos na mesma posição, enquanto eu avanço com cuidado para não tropeçar no que estava estrategicamente espalhado pelo chão, em direcção aos interruptores. Não se via praticamente nada, a não ser a luz dos candeeiros que vinha debaixo do portão e das janelas. Sinto um arrepio, e noto que estou a avançar mais devagar. Por algum motivo, o meu coração dispara. A minha adrenalina inunda-me. Não percebo o que se está a passar...Estico o braço devagar. Antes de alcançar os interruptores paro. Vejo algo no meu lado direito, entre a parede e a estrutura. É algo horrível, extremamente maléfico, com uma energia negativa enorme. O meu braço recolhe automaticamente enquanto os meus olhos tentam ir ao encontro dos da criatura. E quando os encontro, fico com medo. Muito medo. Quero entrar em pânico, pedir ajuda, mas paralisei por completo. Ainda tenho a desagradável e inesquecível experiência de conseguir ouvir o seu respirar, arrastado, pesado, tenebroso, mas num tom baixo. Os meus colegas, que já me tinham chamado duas ou três vezes, gritam por mim, agora nesta última. Os meus olhos ainda não tinham piscado desde que o meu coração entrou em formato acelerado. Pisco agora, e logo a seguir a esse espaço de tempo,  não havia mais nada ali.
Acendo as luzes todas muito rapidamente. Não falo. Olho para o local. E só resta mesmo o local e a imagem, que será impossível esquecer.

BY:JCS
08/03/2012
20:02