DIÁLOGOS ANTES E DEPOIS DA PROMESSA

- Obrigado pela dedicatória. Está linda. Já a guardei aqui numa pastinha à parte.
- Não tens de agradecer. Foi feita com o coração, de boa vontade. Se houve alguma obrigação nisso, foi a que o meu coração criou e me ordenou que realizasse.
- Às vezes deixas-me sem palavras...
- Não precisas de responder...apenas sentir, que o aquilo que te digo é verdade e sentido também.
- És dos meus melhores amigos. Confio imenso em ti. Esta é a minha retribuição para tanta generosidade que tenho da tua parte.
- Só tens aquilo que mereces querida.
Dizes isto, mas pensas de imediato que ela não merece apenas isto. Tens amor para dar. Poderá ser ela a almejada receptora que há tanto anseias?
- Não fiz nada de mais para merecer tanto da tua parte.
- Existes. E isso faz toda a diferença.
- Assim deixas-me sem jeito...não sei o que te diga.
- Não digas nada. As vezes o silêncio é a melhor resposta, para os maus e bons momentos. Saber que me ouves é o suficiente.
-...
- Querida...
- Sim...?
- Noto na tua voz que estás estranha...
- Sabes, às vezes assustas-me...
- Eu? Porquê?
- Parece que me conheces melhor do que pessoas com quem lido todos os dias...
- Talvez. Prefiro dizer que temos um excelente entendimento, uma perfeita empatia e sintonia.
- Concordo.
- Mas não respondeste à minha pergunta...
 O seu silêncio não era muito normal. Esperavas uma boa oportunidade para te declarares, mas sentias que algo não estava correcto. Ela nunca te vira mais do que um amigo, ou pelo menos nunca to tinha demonstrado. À medida que os tics e os tacs do relógio se somavam uns aos outros, tinhas cada vez mais a certeza através da ausência de voz do outro lado do telefone, que a tua melhor amiga não estava bem.
- Sabes...eu...estou um pouco perdida.
- Então? Que se passa?
- Eu...pedi um tempo ao meu namorado...
 Andaste tão absorto da realidade que nem te lembraste de perguntar se a rapariga tinha alguém? Ou ela disse-te e tu simplesmente ignoraste esse facto para não te fazer sentir pior? Ainda assim, nada impede que desempenhes correctamente o teu papel de amigo. E respondes:
- Pediste um tempo? Mas...o que se passou?
- As coisas não estão muito bem entre nós.
- A que se deve isso?
- Quero muito ter uma vida com ele, mas acho que ele não está preparado.
- Deves saber que é um passo muito grande, uma vida a dois. Logo, tem de ser bem premeditado. Tem de haver muitas certezas e poucas ou nenhumas dúvidas.
- Eu sei o que quero.
- E ele?
- Às vezes parece que sim...outras vezes, justamente quando mais preciso de ouvir da boca dele certezas, oiço gracinhas, ou muda de assunto.
- Calculo que isso não te dê muita estabilidade...
- Claro que não...não sei mais o que fazer...
- Já tentaste falar com ele?
- Sempre que o assunto somos nós no futuro, ele esquiva-se de uma maneira ou de outra. Ou porque tem de ir fazer não sei o quê, ou porque arranja um tema que no momento é importante e parece que não pode esperar. E eu faço-lhe a vontade e vou atrás...adiando mais uma vez o que eu achava que não podia esperar.
- E que pensas fazer em relação a isso?
- Se soubesse, não estaria perdida...
- Tens razão.
- Diz-me...o que é que eu faço?
 Ok. Vamos rever as tuas opções: a tua melhor amiga, por quem estás apaixonado, está com dificuldades na relação com o namorado. Ela não é dessas coisas de dar um tempo. Logo, se o fez é porque gosta mesmo dele. Mas ele parece não lhe ligar nenhuma. Tu sentes-te capaz de preencher esse lugar na perfeição e tornar a rapariga, numa futura mulher feliz. É tudo uma questão de palavras. Diz-lhe sinceramente o que ela tem de fazer, tal como se fosses tu. Afinal, vocês não são assim tão diferentes um do outro, são quase almas gémeas - facto que te leva a gostar tanto dela - e se resultaria para ti, porque seria o melhor para ti, decerto resultará para ela também.
- Estás aí? - diz ela, chamando de novo a tua atenção.
- Sim, claro.
- Ficaste tão calado. Não é normal...
- Pois não. Mas situações destas, não me calham todos os dias, especialmente de alguém com quem me preocupo tanto.
- Desculpa estar a chatear-te com as minhas cenas mas...
- ...mas como confias em mim e sabes que podes contar comigo para qualquer coisa, falaste daquilo que mais te atormenta neste momento.
 E agora, entras num dilema pessoal. Beneficio próprio, ignorando um terceiro? A ideia de um "nós", agrada-te mais que tudo. Ou será que o terceiro, tem direito ao primeiro lugar, mas não sabe como o atingir? Podes elimina-lo agora. É isso que vais fazer? Não!
- Querida...sabes o quanto eu te adoro?
- Claro que sim. Às vezes até me arrepias quando o dizes.
- Óptimo.
- Mas...
- Não faria nada que te pudesse magoar. Mesmo que eu pudesse beneficiar com isso. Mesmo que achasse que ficarias bem. Tu ama-lo certo?
- Sem dúvidas.
- Também não duvido. Faz o seguinte: a seguir a esta chamada, liga-lhe, e diz-lhe que precisas de falar com ele urgentemente. Frisa o "urgentemente". Porque tudo o que é urgente, tem prioridade sobre o resto. Diz-lhe que tens andado a tentar falar com ele sobre algo que é demasiado importante, mas parece que és a única a interessar-te nisso. Ele vai perceber pela tua cara que não estás bem. E vai ouvir-te. Possivelmente não te vai perguntar nada, ou apenas vai perguntar "o que se passa".
- Mas eu não sei se consigo...
- Já experimentaste fazer exactamente desta forma?
- Não...
- Então porque já estás a desistir ainda antes de tentares?
- Porque...não sei...
- Talvez eu saiba. No fundo, tu tens um medo de morte que a resposta que ele tem para te dar seja diferente daquela que esperas. É normal do ser humano e de todos aqueles que amam: só esperamos o lado bom e o que queremos ouvir. Por isso tantas vezes nos iludimos, desiludimos e magoamos.
-...
- Mas só vais saber quando lhe perguntares, certo?
- Sim, claro.
- Tempo é sinónimo de frio. Quanto mais deixares passar, mais a vossa relação vai arrefecer. Estás disposta a perdê-lo, porque tiveste medo?
- Não.
- Então, do que esperas?
- Tens razão...então, e quando tiver a atenção dele, que digo mais?
- O que for mais importante para ti. Como se fossem as tuas últimas palavras. Como se soubesses que ias morrer daqui a x tempo, e aquelas teriam de ser as palavras mais certas da tua vida.
- Isso parece-me um bocado...
- Pesado? Sim...mas se tens tentado da maneira simples e não resulta...logo, o problema é da maneira. Há que mudar para algo diferente para termos resultados diferentes. Senão, ficamos sempre na mesma, ou piores...porque a paciência vai-se esgotando...
- Ok...
- Diz-lhe o quanto o amas, e o quanto é importante para ti teres uma vida a dois com ele. O presente é bom, mas pode ser melhor. Queres mais. Queres segurança, estabilidade. Queres que ele seja teu e queres entregar-te a ele como nenhuma outra fez ou conseguiu fazer antes. Faz-lhe ver isso.
- E se ele disser que não?
- Prepara-te para um não, porque é sempre garantido, mas não acredites nele, não dês força a algo negativo. Acredita no que queres. Só e apenas isso. Além do mais...se ele te disser que não, as tuas dúvidas acabam e o teu pesadelo também: ele não te ama como precisas, logo não te merece.
- Onde vais buscar essas palavras todas?
- Porquê?
- Não paras de me surpreender.
- Não tenho nenhum texto para ler à minha frente. Falo o que o meu coração manda. Precisas de ajuda...não posso deixar-te ficar mal.
 Mesmo que isso implique que tu fiques? Parece uma óptima acção. Então e se não resultar e ele disser mesmo à rapariga que não?
- Liga-lhe imediatamente. Qualquer que seja o resultado, não importa a que horas o saibas, liga-me. Estarei à tua espera.
- Mas se calhar, já vai ser muito tarde para.
- Estarei à tua espera. Para te congratular ou confortar. A qualquer hora, em qualquer lugar, o verdadeiro amigo tem de lá estar.
- Obrigada! A sério...obrigada.
- Não fiz nada menina. Tu é que tens de fazer. Só te digo qual o caminho. Mas és tu quem o tem de percorrer.
- Ok. Vou ligar-lhe.
- Boa sorte...e olha...
- Diz...
- Não te tentes lembrar de tudo o que te disse...fala com o coração. Ok?
- Certíssimo...
- Até já então.
- Até já.
 Ela desliga. E tu sentes-te como se tivesses mandado o teu bem mais precioso para o meio dos lobos, com uma espada que ela nunca manejou. A coragem era necessária. No outro lado, só lhe falta carregar numa tecla para fazer a chamada que recomendaste. As lágrimas rasam os seus olhos.
 E tu pensas...que o tudo e o tanto que tinhas para lhe dizer, só poderás fazê-lo se as coisas lhe correrem mal. Portanto fazes um pacto de silêncio com o teu coração, uma promessa que durará tipo, pensa um pouco, num número, ok, mais de oito anos. Isto porque a tua amizade e o bem estar dos teus próximos são mais importantes que o teu. Porque sabes que um dia não vais estar cá. E nada levarás contigo. E mesmo sabendo que nada levas...apenas tu podes te impedir de cá deixar algo. E é isso que queres. Podes não deixar bens, feitos ou descobertas, mas na memória das vidas que atravessaste, foste um verdadeiro Amigo. E o facto de estares nas suas memórias, significa que não te esqueceram. E que até eles próprios partirem, a qualquer momento, algo ou alguém poderá fazer com que se recordem novamente com todo o carinho e saudade de ti, o verdadeiro amigo que esteve sempre lá.
- Estou?
- Sim amor?
- Olha...
- Sim...
- Preciso de falar contigo.
- Ok, fala então amor.
Tremendo e quase chorando, ela dá ênfase ao seu pedido:
- Preciso de falar contigo urgentemente. Aqui, à minha frente. Podes vir para cá agora?
-...
- Agora.
- Claro que sim amor. Mas passa-se alguma coisa?
- Quando chegares falamos. Pode ser?
- Ok...vou vestir-me e vou já para aí.
 Ela desliga a chamada. A primeira fase já passou. Em breve, olhos nos olhos, viria a segunda. E tu indagas sobre como estaria ela...no teu pensamento passeiam belas memórias de vós. O cérebro é realmente uma máquina fantástica. Permite sem nunca teres vivido aquilo, imaginar-te, numa vida com ela. Não, espera. O teu coração é que está a criar isso. O cérebro está orgulhoso de ti, e congratula-te pela decisão tomada. Nunca na vida te tinhas sentido exactamente 50% magoado e 50% orgulhoso. Realmente há mesmo uma primeira vez para tudo. De volta à realidade, resolves mandar-lhe uma pequena mensagem de encorajamento.
 Tocam à campainha. Ele havia chegado a casa da tua amiga. Nesse preciso momento, ela recebe no seu telemóvel a tua mensagem: "Força! Estou contigo". Sem dúvida, um bom timming que terás de lhe tentar explicar mais tarde. Ele entra, preocupado.
- Vim o mais rápido que pude. Que se passa amor?
- Desculpa alarmar-te desta maneira, mas não pode passar de hoje.
- Não estou a perceber.
- Senta-te. Precisamos de falar amor.
- Ok...que se passa?
- Sempre que tento falar-te nisto, desde há um mês ou dois para cá, que consegues sempre evitar.
- De que estás a falar?
- Tu sabes bem. Tanto sabes que tens sempre uma escapatória pronta. Quero falar contigo sobre isso hoje. Sem desculpas.
- Fala amor...
- Quero ter uma vida contigo. Quero ser a tua mulher e mãe dos teus filhos. Quero que sejas o meu homem e que fiques comigo para sempre.
 A distância a que estavam um do outro no sofá, tinha um misto de perto-longe. Agora que ele tinha sido encurralado, poderia fugir...ou...agarrar-lhe nas mãos e olhar-lhe nos olhos?
- Estou a olhar-te nos olhos para que saibas que tinha um medo enorme de que um dia me dissesses isso. Não porque não te ame. Mas porque tenho receio de não estar à altura das tuas expectativas. 
- Estás a tremer...
- Pois estou. É dos nervos amor...
- Estás nervoso?
- Sim. Este é o passo mais importante que tenho de dar com alguém. E esse alguém, sim, quero que sejas tu.
 Os olhos dela enchem-se novamente de lágrimas, mas desta vez, de pura felicidade. Um abraço emotivo que se fez seguir, faz as dele rolarem pelas costas da sua amada abaixo. A próxima vez que seus olhares se cruzam, dá origem a mais um momento que só o amor consegue fabricar: em uníssono dizem ambos...
- Amo-te!
 Distribuem-se sorrisos. Lágrimas de alegria, tristeza e de todos os sentimentos que estavam até à instantes à flor da pele.
- Tive tanto medo de te perder.
- Desculpa ter prolongado isto tanto tempo...
- Não faz mal...
- Sim, faz...devia ter percebido o quanto tudo isto era importante para ti.
- Quero que saibas uma coisa...
- O quê?
- Amo tudo o que somos quando somos "nós".
-...
 Um enorme sorriso na cara dela faz a sua alma, a sala e meio mundo brilhar! Mais tarde, no requisitado telefonema ao seu amigo:
- Estou?!?
- Parabéns querida.
- Mas...
- Como é que eu sei? O brilho da tua felicidade viu-se por aqui querida. A tua voz denuncia-te logo na primeira palavra que dizes.
- Obrigada. Obrigada por tudo.
- Tu é que tiveste o trabalho todo. Estás a agradecer-me pelo quê mesmo?
- Oh! Não sejas assim. Sem ti, possivelmente andaria por ai cabisbaixa, e já teria feito alguma asneira.
- Ok.
- Não me contraries, senão, és decapitado!
- Ahahahahahha! Já há muito tempo que não me dizias essa. Boa.
- Isto faz parte dos nossos melhores momentos.
- Que quando não estás nos teus melhores dias, não se revelam. Não sou bruxo. Apenas te conheço bem.
- Não és bruxo? Ainda tens de me explicar como é que me mandas mensagem mesmo antes do meu namorado chegar.
- Só faço coisas dessas quando precisam de mim.
- Muito bem. Esquivaste-te bem. Mas hoje estou demasiado feliz para insistir contigo. Portanto, por hoje passa.
- Ahahahah. Ok. Parece-me bem. Assim dá tempo de para inventar uma desculpa qualquer.
- Estou felicíssima. Nem tenho palavras para o descrever.
- Promete-me uma coisa...
- O quê?
- Prometes?
- O que queres que prometa?
- Confias em mim o suficiente para me prometeres mesmo sem eu te contar o que é?
- Confio. Depois do que fizeste de bem por mim hoje, não me ias fazer algo que me fosse prejudicar, certo?
- Linda menina. Então...
- Prometo.
- Acabaste de me prometer que vais fazer tudo o que se passou entre eu e tu e tu e ele valer a pena. Todo o sofrimento, ansiedade, medos etc. Vais fazer de tudo, para que dure o máximo tempo possível com a melhor qualidade possível, e nunca vais deixar de lutar por esse amor, que consideras ser o amor da tua vida.
- Prometo, prometo e reprometo. Mas...o que queres dizes o "eu e tu"?
- Daqui a uns oito anos eu conto-te. Em troca do que aconteceu hoje, só te peço que cumpras a tua promessa, aproveites ao máximo e que esperes esse tempo. Consegues?
- Estarás a meu lado até esse prazo acabar?
- Até a minha vida acabar.
- Oh...
- Adoro-te Isabel.

BY:JCS
22/05/2012
02:02


[Mais de oito anos passaram. A minha promessa foi cumprida e o casal...continua junto. Grande amiga...felicidades:)]

2 comentários:

Comentar este texto: